Mamãe Paula e a pequena Isis com 3 dias-2003 |
Já havia criado uma certa afinidade com a comunidade, e na
semana anterior, havíamos detectado uma familia em situação de estrema necessidade,
visto estar o seu mantenedor, enfermo, cujo barraco havia sido destelhado por
intempérie. Estavamos em época de fortes chuvas.
Assim, outros voluntários ficaram encumbidos de conseguir doações
de telhas, para aquela urgencia. Conseguido as telhas, o irmão motorista
apressou-se a levar, para que a proxima chuva não pegasse a familia assistida
ao relento.
Assim, logo após o almoço, chegávamos à comunidade eu e o irmão José
Mariano.
Chegamos, recebemos a permissão para adentrarmos à comunidade e
fomos em busca de braços fortes também voluntários para descarregar e montar o
pequeno telhado.
Enquanto isto se dava, passou por mim, uma menina, muito jovem, cerca de uns 12, 13 anos no máximo, com um pequenino embrulho nos braços, com sangue escorrendo pernas abaixo, com ares de desorientada, que ao perceber meu olhar, veio até mim, mostrar o seu bebê.
Enquanto isto se dava, passou por mim, uma menina, muito jovem, cerca de uns 12, 13 anos no máximo, com um pequenino embrulho nos braços, com sangue escorrendo pernas abaixo, com ares de desorientada, que ao perceber meu olhar, veio até mim, mostrar o seu bebê.
Tentando disfarçar a angustia despertada, fui pegando
informações necessárias para aucxiliá-las. Sua criança, com menos de dois dias
de vida, tinha o corpinho miúdo, envolvido
numa velha fronha e só.
Após identificar a mãe, e localizar seu
endereço, fui ter com sua responsável, uma meio tia que a hospedava.
Das informações obtidas deduzi que: A garota
tinha apenas 13 anos incompletos, sofria das faculdades mentais, provavelmente havia sido estrupada, já era uma inimputável, orfã de mãe,
e o pai não tinha nem preparo, nem paciencia para lidar com a adolescente problemática.
Quando da descoberta da gravidez precoce, esta meio tia a acolheu pra sua propria casa e a amparara até ali.
Quando da descoberta da gravidez precoce, esta meio tia a acolheu pra sua propria casa e a amparara até ali.
O parto deu-se antes da hora aprazada, e a mesma fugira da
maternidade. Sem cuidados, sem enxoval para a criança, o seu estado era o
descrito acima.
Terminado minha visita, retornei para casa em meio a um turbilhão de sentimentos angustiosos e profunda tristeza pelo quadro assistido. Mas algo em mim, não me permitiu
ficar apenas chocada, mobilizando-me a buscar uma solução pelo menos para a criança.
Eu acabara de ter um bebê, coisa de 7 meses, mas era uma criança
bem grande cujas roupas de rescém nascido ha muito havia doado.
Cheguei em
casa, e saí pela vizinhança,contando a história e pequisando quem poderia dispor de alguma roupinha.
Em duas horas, havia reunido o suficiente para agasalhar não uma, mas tres
crianças rescém nascidas. Uma das vizinhas, sabia de uma mãe que houvera perdido o seu bebê, a
pouqissimos dias, e ao ser contatada, esta doara todo o enxoval.
Reuni tudo, chamei ao irmão Mariano e retornamos à
comunidade para socorrer aquelas duas criaturas. Mais duas foram beneficiadas
com o resultado de uma tarde.
Aquele dia foi fundamental em minha vida. No final eu sentia um
misto de alegria e tristeza, por saber que haviam outras crianças por nascer, e muitas mães
em situação de risco.
Eu tinha uma máquina de
costura, um pouco de conhecimento, uns poucos retalhos; Mas os tecidos não eram
próprios para as delicadas peles dos bebês, então eu teria que resolver esta
questão.
Os enxovais prontos para serem entregues |
Comecei a contar para algumas amigas, do núcleo espirita que eu
frequentava, das minhas relações; em pouco tempo percebi que me tornara uma grande ‘pidona’; algumas vezes cheguei a ser criticada por divulgar as tragédias alheias, na menor
oportunidade.
Mas também descobri, que eu nada mais era que uma simples ponte,
entre quem podia doar, algo e quem necessita de algo, e logo alguém me colocou em contato com as
senhoras do Lions Club da nossa região. Assim,indo daqui e dali, consegui um pequeno
lote de macacõezinhos, uns pacotes de fraudas de pano.
Aqui, preciso abrir um parentese pra registrar o final da história da primeira mãe desta história: Relatei os fatos à Assistente Social da LBV,Amarilis, naquela época, que por sua vez, levou o caso até a A.S. então do serviço público disponível, passou o caso para uma médica responsável pela G.O. do mesmo, e esta tomou para si o encargo de auxiliar a jovem mãe. Soube mais tarde que a mesma fora submetida a uma cirurgia esterelizadora, devido as suas condições psiquicas. Mais algum tempo, a mesma abandonara a criança aos cuidados da tia e nunca mais a vi.
Nesta
época eu montava tiaras, enfeites para cabelos, fazia laçarotes, fru-frus, etc,
e tirava deste trabalho recursos para comprar fraudas, flanelas, punhos, botões
de pressão , bolas de algodão, cotonetes, alfinetes, sabonetes; também ganhava,desodorantes,
absorventes, shapoos para as mães.
Recolhia roupinhas usadas pela vizinhança, lavava, reparava
algum detalhe, confeccionava culotes, pagãsinhas, paletozinhos, aprendi a cortar
e costurar os tip-tops. Cortava um cobertor
de adulto, fazendo dois ou quatro conforme o tamanho,para bebês, fazia
mantinhas de retalhos, forradas com algum tecido macio, etc.
A coisa foi crescendo, e tomando vulto, ao ponto de se formar fila de espera. Percebi, que era a oportunidade de dar algo mais que o enxoval.
Como profissional de Saude, eu poderia doar meus conhecimentos
profissionais além das experiencias de mulher e mãe; principalmente para as jovens e
inexperientes mães. Marinheiras de
primeira viagem.
Naquela época era muito alto o numero de adolescentes gravidas; Ainda o é hoje, mas com o diferencial que temos a UBSF, (Unidade Basica de Sauda da Familia), com um amplo serviço de informação e conscientização, que trabalha integrada com a escola, e comunidades religiosas. Diminuiu de forma sensivel, mas ainda ocorre casos de adolescentes gravidas.
Naquela época era muito alto o numero de adolescentes gravidas; Ainda o é hoje, mas com o diferencial que temos a UBSF, (Unidade Basica de Sauda da Familia), com um amplo serviço de informação e conscientização, que trabalha integrada com a escola, e comunidades religiosas. Diminuiu de forma sensivel, mas ainda ocorre casos de adolescentes gravidas.
Bom, voltemos.
Assim projetei montar um curso para gestante. Encontrei na
internet, um material fantástico preparado pelo Centro de Assistencia Maternal
da Sociedade Espirita Bezerra de Menezes do Rio de Janeiro.
Consegui que me enviassem o material, estudei-o e o adaptei para
a nossa realidade. Foi assim, que nasceu o "Curso para Gestante do NAEL." (Esta é
a sigla de Nucleo Assintencial Espirita Luizinho, cuja história prometo contar um dia desses).
Bem, como ninguém faz nada sozinho, voce que me lê, já percebeu
a formação de um grupo formidável de pessoas envolvidas e comprometidas com
esse trabalho.
A primeira delas foi meu esposo, pois sem a sua cumplicidade,
compreensão e carinhos, eu jamais teria condições de me dedicar tanto. Lembrem-se
que eu tinha um bebê, e uma filha adolescente, garotinho com cinco anos, iniciando
sua vida escolar, e realizava este trabalho em minha propria casa, em dois cômodos adaptados aos fundo.Meu esposo na foto abaixo,me dera todo o suporte pra que me sobrasse tempo, pra me dedicar a essa tarefa, que muitas vezes entrava noite a dentro no cuidado de pequenos detalhes.
Era ela quem fazia os biscuits das tampas,Pintava as fraudas, e
barrinhas dos conjuntinhos pagãs, coeros, mantas, e ensinava tudo isto para as
gestantes, que conforme a habilidade individual, cada uma aprendeu a fazer um
desses trabalhos mauniais; como crochet, ponto em cruz, pintura em borda de
tecido, fraudas de boca, cueros,etc.
Era muito trabalho, muitos detalhes pra que tudo fosse perfeito. Depois veio a Lucélia,menina de sorrizo fácil, de alma generosa, trazia seus conhecimentos artisticos, e palavra fácil nas palestras educativas, além de captar doações na sociedade, o Alexandre Assistente Social da LBV, e meu afilhado, sua esposa Joana , que fizeram juntos fundamental diferença, ele enquanto A.S. Introduziu conhecimentos sobre Direitos e Deveres, Leis instituidas do Direito da Crianças de do Adolescente, e Orientação sobre a Violencia Doméstica e contra a Mulher. a dra, Lígia,
Advogada aposentadas, que nos emponderou com seus conhecimentos, e sua agadável presença, o Antonio nos brindava com interessantes palestras sobre educação de filhos com com segurança doméstica e objetivos cristãos.
Acreditávamos que assim, cada uma colocava sua energia amorosa e experança nas peças em que trabalhavam, e esta energia boa, alegre, leve, seriam recebidas por os bebês. No final do curso, fazíamos uma pequena comemoração, com bolos, sucos e refrigerantes, culminados com a entrega dos enxovais.
Mariinha e a Gestante Karina, pela terceira vez |
Além disso, cuidávamos também, para que todas recebessem mensalmente uma cesta básica de alimentos,e uma de higiene pessoal, que eram entregues por outras equipes do NAEL, coordenada por outros voluntários,
Como os senhores Dijalma, Paulo Cesar, Fernandinho e Cidinha
, Julio e Marly, Elidia, Jucélia, Edu e Elaine, entre outros, cada qual era responsável em além de doar de si, conseguir doações o suficiente para montar uma substanciosa cesta.
Durante anos, tivemos este trabalho ativo, a todo o vapor.Sempre havia uma lista de espera de gestantes para iniciar o curso, além de assistencia emergencial de mães que chegavam de outras comunidades em estado avaçado de gestação, ou bebês que já haviam nascido.
Caio Rian chegou mais cedo |
Hoje, a Tia
Nice, pode olhar para traz e ver, a quelas criancinhas, grandes e saudáveis, se preparando para a vida.
Minha bebê,
do inicio desta história está completando 18 anos, ingressando no mercado de
trabalho.
A nossa comunidade formada por cinco conjuntos habitacionais, se emancipou, e caminha por conta própria.
Posso enfim respirar e dizer que minha parte está feita!
Esse trabalhou durou até final do ano 2004, portanto por 10 anos.
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