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sábado, 22 de junho de 2013

Marcos Delefrate( “de le frate”, da fraternidade)


                                         
Lendo e repassando uma mensagem que recebi e quis compartilhar:
O VALOR DE UMA VIDA


Marcos Delefrate, 18 anos de esforços e ideais, de energia e projetos, estudante do SENAI e do querido Otoniel Mota, foi mortalmente atingido, ontem, pelo impulso prepotente de um motorista. Junto de amigos, de colegas, de professores, vibrava com outras vinte e cinco mil pessoas de Ribeirão Preto numa passeata que em tudo o mais foi pacífica, coincidente com outras trezentas e tantas que reuniram cerca de um milhão de manifestantes em todo o país. O destino o escolheu como nosso mártir, esta é a frase de um aluno do Otoniel, durante a singela homenagem que a escola lhe prestou hoje logo cedo. A vida de Marcos foi ceifada, ontem, como uma flor arrancada cedo demais de uma árvore, a imensa árvore da juventude brasileira que está saindo às ruas para exigir respeito pelos direitos reais que as leis e a civilização lhe garantem.

Marcos era o filho único de um casal de operários. Eles estão lá, na Igreja que ele sempre frequentou, sentados junto ao esquife onde o rosto do menino continua sereno como sempre foi. Mas agora sem voz, sem emoções, sem pensamentos. Aluno de escola pública, estagiário numa indústria, lutador incansável, representa a todos nós que estudamos e trabalhamos diariamente em condições inadequadas neste Brasil que deseja e decidiu amadurecer.

Outro aluno, seu colega de academia, testemunhou: Marcos sempre passou uma atitude de coragem. Então é essa coragem e essa perseverança que não podemos deixar fenecer. A voz que Marcos não pode mais proferir seja multiplicada em nossos gritos insistentes pelo que é certo e justo. Os sentimentos que não movem mais seu corpo forte sejam assumidos por nossa tenacidade em prosseguir dizendo a todos que não aceitamos violência nem conchavos corruptos. As ideias que não são mais expressadas por esse jovem valoroso frutifiquem de mil modos em nossas mentes e em nossas conversas, planejando um futuro digno dos sonhos de nossos filhos e alunos, desarmando as mentiras que alguns aproveitadores maquinam, construindo empreendimentos criativos que acabem com a miséria e produzam solidariedade.

Marcos Delefrate, “de le frate”, da fraternidade, mantinha acesa em seu peito a chama das mudanças que queremos construir em nossa nação. No meio de uma tristeza cinzenta, ainda sentindo a dor de uma perda lancinante, temos que assumir o vigor dessa chama que o animava a estudar e trabalhar. Sua vida não pode ser jogada no esquecimento, como gostaria o motorista foragido. Se uma escola tem sentido, se uma amizade vale a pena, se os estudos rendem frutos, é para manter vivos os mais preciosos valores humanos, estes que Marcos bem sabia cultivar e nos deixa como herança. Sua vida foi um dom, sua morte torna-se um convite. Cada um responda, conforme sua consciência.

Ribeirão Preto, 12:00 horas de 21 de junho de 2013

Nestor Müller, professor do Marcos.

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