Seguidores

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Adeus ao senhor Valter de Souza.

                             

        A vida nos reserva cada surpresa!
A  quase vinte anos, conheci um casal maravilhoso; Ele recolhia recicláveis e ela vendia produtos de revistas, ambos muito meigos, educados e felizes.

Era o casal Valter e Olga. Moravam no bairro próximo e logo nos tornamos bons amigos. Nossa amizade evoluiu ao ponto de eu lhe pedir a benção a cada encontro. Me acolheram em sua casa humilde mas repleta de uma paz, que pouca vez senti na casa de alguém. Claro que tinham os problemas naturais da vida, mas sempre  lidavam com eles de uma forma leve. Com o tempo, conseguiram receber os benefícios do governo para idosos, pois oriundos de uma comunidade  de favela, e antes do campo, passaram a viver com menos angustia, na sua casa recebida pela companhia  Habitacional. Não tiveram filhos, mas criaram dois sobrinhos que adultos foram viver suas vidas de casados. 
            Sempre muito carinhosos, ele era sempre solicitado para limpar um quintal, ou cuidar de algum jardim,  que ele fazia com muito esmero. Fora jardineiro por algum tempo,até aposentar-se, e pode então dedicar-se ao que mais gostava; seus bichinhos , patos e galinhas além dos seus cães. Foi com eles que aprendi a ver um pit-bull como um cachorro normal, carinhoso e afável. Hoje eles tem a Dilma, uma bela cadela, que até está obesa. É puro dengo!
           Dona Olga, é considerada pelas vizinhas, como uma mãezona, querida e respeitada por todos.
          Seu Valter foi até hoje a única pessoa que me ajudava a cuidar das minhas plantas. E como cuidava! Tinha muito amor ao fazê-lo e as plantas agradeciam crescendo com vigor. Fala mansa, baixa tranquila, acalmava qualquer um que com ele falasse por alguns minutos. Mesmo sendo de pouca fala. 
             Já tem um tempo, percebi que ele tinha um dos pés bem edemaciado, e perguntei-lhe o porque, se doía, se já tinha visto o médico, mas ele  negou qualquer dor, ou desconforto.Não se queixava de nada. Nunca! Sempre tudo estava bem. Gostava do meu café, e elogiava  até. E eu gostava de fazer um cafezinho bem caprichado para servi-lo. Nessa convivência de quase vinte anos, considerávamos como família. Nos últimos tempos, dona Olga ficou doentinha, e pouca saía de casa, assim só os via quando os visitava. Preocupava-me  com ela, e ele sempre firme. Por falar em firme, ele tinha um aperto de mãos na medida certa, e que poucas vezes vi em alguém. Firme, segura.Na última visita, a coisa de dois meses, temi pela saúde dela, emagreceu, cabelinho encaneceu, e ficou com o corpo um tanto arqueado, do tipo que faz o peso dos anos sobre nosso corpo. Mas ainda dessa vez, me receberam com a mesma alegria e generosidade, perguntando por todos da família, sem esquecer dos meus bichinhos. Duas semanas atrás, ela apareceu em minha casa mais frágil, e foi acompanhada por uma conhecida que a encontrara, no supermercado, condoendo de seu estado, a acompanhou até minha casa. Ela veio contar que o senhor Valter estava acamado cerca de quinze dias, com um tumor no estômago. Apressei a verificar pessoalmente as condições dele. confesso que não gostei do que vi, mas ainda ali, ele continuavam calmo, sereno e brincalhão. Fazer piada de si mesmo, era uma característica. Havia passado por uma laparostomia, e tinha uma sonda enteral no abdome. A pedidos verifiquei a ferida cirúrgica, e pude apalpá-la, constando, uma enorme massa consistente sobe a incisão, que estava cicatrizando bem, porém o resto não me pareceu coisa muito positiva. Verifiquei o que poderia fazer para dar-lhe mais conforto, e já saí dali com ideias de mobiliar todo o amparo possível aos dois. O primeiro passo era contactar a equipe da saúde da família quanto aos cuidados necessários e possíveis dentro das suas atribuições, e o segundo era conseguir promover agasalhos e roupas apropriadas para um acamado em época de inverno. Assim, mobilizei as pessoas que poderiam nos ajudar, e as amigas para os visitar, pois que era isso o que eles mais necessitavam no momento. Voltei com a Cirenia, outra amiga querida dos dois e minha também. 
Na manhã do dia dos pais, ao visitá-los recebemos a noticia de que estava internado no HC, pois havia sofrido uma queda no banheiro.mas na verdade sua internação se deu por conta de uma pneumonia, e certamente a queda foi por fraqueza.   Fiquei sem outra notícia, até que ontem a noite me avisaram que ele havia falecido. 
            Fiquei entristecida, mas ao mesmo tempo grata, porque ele não passou pela fase de dores horrendas que o câncer provoca. Hoje logo cedo fui visitar dona Olga, e a encontrei na calçada, limpando as folhas que o vento trouxe. Conversamos um pouco ali, ela me convidou a entrar, e mais tranquila deixei-a falar sobre tudo, cada detalhe, cada momento.E segundo seus relatos, ele vinha tendo episódios de hemorragia verificada nas fezes fétidas e semi liquidas dos últimos meses, Porém sem nenhuma queixa de dor. Ela esta aparentemente bem, ou ainda não digeriu a realidade. Mas está serena. Lembrou-se de ter enterrado todas as irmãs, e agora o esposo. O sepultamento foi em Jaboticabal cidade de seus familiares. Me comprometi em acompanhá-la nos procedimentos burocráticos, inteirei-me sobre sua alimentação, e voltei para casa. 
            Estou triste por despedir-me de mais um amigo, mas feliz por ele ter cumprido sua agenda por aqui, da forma como o fez. Estou contente e agradecida por te-los conhecido, por te aprendido a amá-los. Minhas orações são para seu breve restabelecimento e que seu despertar na Pátria de origem seja tão suave quanto sua partida.

             Assim, registro aqui a partida de mais um querido amigo e vizinho. Senhor Walter de Souza em 13 de agosto de 2013
.

Nenhum comentário: